quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Os alemães e teuto-brasileiros na indústria pelotense do séc.XIX

As façanhas de Jacob Klaes (parte 1)
 

(Dedicado aos amigos Jonas Tenfen e Sérgio Schwanz)

                                                                                        A.F.Monquelat
 

         A província do Rio Grande do Sul deve, em grande parte, seu desenvolvimento industrial à nacionalidade alemã ou teuto-brasileira. No segundo momento da sua imigração ao território mencionado, deram início ao processo de modernização que, até então, além da primitiva e rudimentar indústria do charque vivia apenas da agricultura e pecuária.

         Na década de 80 do século XIX, Porto Alegre se encontrava entre as cidades mais industriais da América do Sul e, salvo não muitas exceções, quase todas as indústrias existentes na província do Rio Grande do Sul se deram por iniciativa dos imigrantes alemães, ou por seus descendentes, prova da forte influência exercida por esta imigração sobre a indústria das regiões onde ela concentrou.

         A província do Rio Grande do Sul, segundo dados obtidos sobre as décadas de 70 e 80 do século XIX, produzia poucos produtos.

         A exportação para fora do país se limitava a um milhão de couros secos e salgados, duzentas mil arrobas de fumo e um pouco de erva mate, cuja fabricação se desenvolvia consideravelmente. Se a estas mercadorias agregássemos alguns carregamentos de guano artificial, chifres de boi, cola e crina, algumas centenas de barricas de pedra ágata, línguas em conserva e um pouco de seda, teríamos todos os produtos que compunham a exportação da província para o exterior.

         Em compensação, e constituindo-se a agricultura na principal riqueza da província do Rio Grande do Sul, esse setor da produção fornecia além da graxa e do charque, o feijão, a farinha e o milho à maior parte das províncias do império, fato possível e incrementado a partir da chegada dos 12.000 colonos alemães recebidos no Rio grande do Sul desde as primeiras décadas do século XIX.

         No sul da província, podemos destacar na cidade de Rio Grande, sem nos determos em descrevê-la ou acrescentarmos maiores detalhes, a importante fábrica dos Srs. Rheingantz & C., única do Império no seu gênero.

         Em Pelotas, além de várias outras, podemos citar a fábrica de guano artificial e outros produtos do gado vacum, de propriedade do Sr. Gustavo Hugo Elst, industrial alemão, situada na Costa - Arroio Pelotas -, no centro das charqueadas, ali instalada por volta do ano de 1876.

         É ainda necessário salientar e destacar as fábricas dos Srs. Lang e a do Sr. Carlos Ritter.

         E quanto ao Sr. Jacob Klaes e suas façanhas? Vejamos:

         Natural da Alemanha de onde veio, em companhia dos pais, em fins do ano de 1846 indo morar na província de Minas Gerais.

         Em 1860, Jacob Klaes, atravessou a Serra da Mantiqueira (lugar denominado Serra do Picú) com carroças, o que, segundo diziam, até aquele momento tinha sido impossível fazê-lo.  Esta proeza fez com que o povo da região afluísse à estrada para ver o “navio de rodas” e seu comandante, o alemão Jacob Klaes, que à própria custa havia, abrindo pedaços de caminho, realizado tal façanha.

         Em 1864, montou uma fábrica de botijas nas águas virtuosas da Campanha a fim de exportá-las e torná-las conhecidas; além de fazerem concorrência às águas de Seltzer e Vichy, dentre outras, que se importavam do exterior, quando as brasileiras eram muito mais ricas em sais e partes minerais, segundo as opiniões, na época, dos Drs. Gasier e Paula Fonseca.

         Em 1868, Jacob abandonou a província de Minas Gerais e foi para o Rio de Janeiro, onde permaneceu até final de 1870, quando então veio para o Sul, dedicando-se exclusivamente ao fabrico de fumo.

         A primeira fábrica que instalou foi em Porto Alegre, em 1871, onde permaneceu até o ano de 1872 e, como adoecesse, precisando de um clima mais quente, retornou para o Rio de Janeiro ali instalando uma casa filial.


Engarrafamento e venda de água mineral.
 
         Foi o primeiro a empacotar o fumo e um dos primeiros fabricantes à introduzir o fumo desfiado, tendo se dedicado, com afinco, a conseguir tirar parte da nicotina contida no fumo, tendo obtido, com esse propósito, reais e bons resultados.

A fábrica de fumos do Sr. Jacob Klaes em Pelotas

         Em artigo enviado à Gazeta de Notícias da corte, onde tratava da viagem da princesa imperial a Pelotas, em fevereiro de 1885, disse o jornalista Maximino Serzedello, sobre a visita feita ao armazém do Sr. Klaes, “também visitado por Suas Altezas”, que era um dos estabelecimentos mais importantes e, as suas oficinas para o preparo dos fumos, fabricação de cigarros e charutos, eram grandes e montadas com aparelhos e máquinas aperfeiçoadas, algumas de invenção do próprio Sr. Klaes.

         Para que não houvesse falta de fumo, o Sr. Jacob mandava vir da Europa sementes e distribuía gratuitamente aos agricultores, que as plantavam nas áreas, por vezes, recém-empossadas, para depois vender-lhes as folhas, que ele beneficiava na sua fábrica, por meio, de aparelhos modernos.

         Dada à importância da fábrica do Sr. Jacob Klaes, diz o jornalista que a descreveria, ainda que de forma sucinta: saindo do escritório, deparava-se com um grande armazém e depósito de fumos em folha e desfiados, e, logo após o depósito diversos compartimentos com oficinas de fabricar cigarros, enlatação e preparação de fumos desfiados, prensas destinadas ao fumo em corda e tabuleiros para secar o fumo.

         Além de caldeiras próprias para abrir a folha do fumo, extrair a nicotina e o mel, por máquinas, para depois  a torração, desfiação e corte, pelos sistemas ou qualidades já bastante conhecidas, como sejam: fumo desfiado, crioulo, picado, caporal, turco, paraguaio, Virgínia, Kentucky, francês, etc. e etc., e que nenhuma diferença tinham dos fumos importados.

         O Sr. Jacob Klaes, além de sua fábrica, possuía um museu de objetos curiosos, tanto nacionais quanto estrangeiros, dignos de serem vistos e comentados, e que vinha sendo objeto de admiração de naturalistas e curiosos que lhes tinham feito os maiores elogios.

         Concluía o Sr. Serzedello dizendo ser o Sr. Klaes um cidadão estimado e conhecido em toda a província do Rio Grande do Sul, e que este sentia por sua nova pátria todo o entusiasmo que sabiam sentir os heroicos rio-grandenses, e que ninguém mais do que o Sr. Klaes, na província do Rio Grande do Sul, tinham sabido reabilitar a indústria, merecendo os seus produtos os melhores prêmios nas exposições de Berlim, de Paris e na Brasileiro-Alemã de Porto Alegre.

         O estabelecimento industrial ao qual o jornalista não poupou elogios por ser o mais bem montado dos que ele conhecia, tinha 15 operários e as suas vendas anuais giravam em torno de 150 a 200.000$000 (duzentos mil contos de réis). Toda vez que ele, Serzedello, falava de um industrial como o Sr. Jacob Klaes, sentia um verdadeiro entusiasmo, porque via em homens como o Sr. Jacob um grande amigo do progresso do Brasil.


                                                                                                                                                                                      
Continua...

  
       

Fonte de consulta e imagens: Bibliotheca Pública Pelotense - CDOV

Revisão do texto: Jonas Tenfen        

Tratamento de imagem: Bruna Detoni

4 comentários:

  1. Parabéns aos idealizadores do blog. Sucesso!!!

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  2. Que bacana ler essa noticia, fico feliz! Como tinha te dito gostaria de ver seus textos todos (pelo menos alguns) juntos em um blog. Já que o outro povoamento de Pelotas não mais era atualizado. Pelotas precisa desses espaços onde a literatura se encontra com a nossa história, onde seus habitantes possam buscar suas identidades com a memória local. Tenho certeza que será um espaço para debate e ideias construtivas sobre a nossa cultura. Qualquer coisa a página Pretérita Urbe está ai e com certeza será um ponto onde seus texto estarão compartilhados!

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  3. Parabéns, Monquelat. Agradecemos todos pela tua iniciativa. Um abração.

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  4. Parabéns, Monquelat. Agradecemos todos pela tua iniciativa. Um abração.

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