quarta-feira, 4 de novembro de 2015

A charqueada do Sr. Joaquim da Silva Tavares




         A charqueada do Sr. Joaquim da Silva Tavares, segundo os que a visitaram na década de 80 do século XIX, era considerada uma das mais importantes dentre as charqueadas pelotenses.  Estava localizada à margem esquerda do São Gonçalo, na Costa.
         À direita do galpão da matança, estavam duas tinas de madeira para cozinhar sebo, pelo antigo sistema.
         Em outro compartimento, estava a fornalha-caldeira, com 3 (três) cilindros, sendo dois deles para aquentar a água e o outro para o vapor, sendo sua força de 14 (quatorze) cavalos dinâmicos.
         Fora dali estavam 3 (três) digeridores, verticais, de ferro, comportando gorduras de 160 a 170 reses, que eram cozidas em 6 (seis) horas.
         Logo que a graxa estava pronta, ia esta por um encanamento até um depósito, de cimento, de onde outro tubo a levava ao depósito geral.
         Ao pé da fornalha, estava uma bomba horizontal, também movida a vapor, e que enchia as tinas.
         A água para o serviço vinha de um poço artesiano, com sessenta palmos de profundidade, que ficava no pátio. Ao lado ficavam 3 (três) tanques de cimento, onde ficavam depositados os resíduos da graxa.
         Ainda ali, havia um poço com 20 palmos de profundidade.
         Na graxeira, estavam 2 (duas) tinas colocadas ao alto, onde, por um tubo vinha a gordura do tanque de cimento.
         As tinas estavam colocadas de tal forma, que podiam encostar as torneiras às pipas para enchê-las de gordura.
         Havia também duas fornalhas-caldeiras para refinar graxa, comportando cada em torno de 60 arrobas.
         A graxeira servia ainda de depósito para barricas e tinha varais onde colocavam as bexigas.
         No pátio de entrada da charqueada, ficava uma bomba aspirante, indústria nacional, movida a mão. Também havia outra bomba igual, tendo ao pé um grande tanque de cimento para lavar o sebo de 200 reses, operação esta que levava duas horas.
         Ao centro da charqueada, estava a cancha da matança, onde trabalhavam 26 carneadores.
         A charqueada do Sr. Joca Tavares era, talvez, a única que aproveitava a água da chuva e, para tal,  mandara construir um depósito de ferro com capacidade para armazenar 400 pipas de água.
         No galpão de charquear, havia ganchos para dependurar 250 reses, se necessário, e nele trabalhavam 30 pessoas.
         Ao fundo da charqueada, estava o depósito do sal, que comportava 14 mil alqueires. Tinha no local 3 (três) mesas para a salga, empregando cada mesa 3 (três) pessoas.


         As carroças entravam naquele galpão com o propósito de carregar o charque para os varais, que estavam no terreiro e eram em quantidade tal que podiam estender o charque de 1.200 reses.
         Na barraca do couro havia um grande tanque, com capacidade para conter 250 couros, havia também outro tanque onde colocavam as costelas. Na barraca era possível armazenarem 10.000 couros. O descarne era aproveitado para a exportação e as garras eram propriedade dos escravos.
         Havia no pátio geral da charqueada, 4 (quatro) pilhas[pilastras] de madeira e palha, para o charque.
         No início do mês de janeiro do ano de 1884, eram empregados nesta charqueada sessenta e cinco pessoas, sendo 48 escravos.
         Para o serviço da charqueada, havia a disposição 30 carros de mão, e 8 (oito) para uso de cavalos.
         No serviço marítimo, era usado “um bom iate”, tripulado por 3 (três) homens livres e 1(um) escravo.
         A fornalha-caldeira era alimentada à lenha e a carvão nacional.
         Esta charqueada possuía uma mangueira, de madeira, com capacidade para 800 ou até mesmo 1.000 reses, um curral de espera e um curro, tudo de madeira.
         Ao centro da cancha de carnear, havia um trilho, de ferro, por aonde um carro conduzia o animal abatido até à frente do carneador.
         Em compartimento separado, estavam a senzala, a casa do capataz, o depósito das carroças e a casa de moradia do proprietário.
         Possuía ainda o Sr. Tavares 3 (três) potreiros, sendo 1 (um) grande e 2 (dois) pequenos, bem como 2 (duas) “bonitas e bem cultivadas hortas”.
         Estava em construção, na época, uma linha férrea para conduzir o charque até o cais.
         A fama da graxa produzida naquela charqueada era tamanha, que muitas vezes ainda nem estava na graxeira e já estava toda ela vendida.
         Quando da visita da princesa Isabel a Pelotas, fevereiro de 1885, disse o jornalista que acompanhou a comitiva, Sr. Maximino Serzedello, ao descrever algumas das charqueadas por ele visitadas, que todas as outras, a exceção da do Sr. Joaquim da Silva Tavares, cujas caldeiras para o fabrico do sebo e cola era de ferro, tinham as suas caldeiras de madeira, o que resultava no consumo maior de tempo do que a do Sr. Tavares na extração da graxa, sebo, etc.         
        
        



Fonte de consulta: Bibliotheca Pública Pelotense - CDOV
Revisão do texto: Jonas Tenfen        
Tratamento de imagem: Bruna Detoni

        
         

Um comentário:

  1. Show de história, como é importante preservar para entender o presente.

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