quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Com o Diabo na Praça da República



                                                                                  De dois cigarros dei cabo,
                                                                                  Fazendo esta versalhada;
                                                                                  Mas cigarros da afamada,
                                                                                  Da popular marca Diabo;
                                                                                  Os que mais são consumidos
                                                                                  Pelos fumantes bizarros,
                                                                                  E, como ouvi de diversos,
                                                                                  São dados, não vendidos.
                                                                                  Só gosto de ler bons versos,
                                                                                  Tendo ao lado bons cigarros... 
                                                                                              T.


         Em sessão realizada dia 10 de julho de 1901, à noite, foi lido pela diretoria da União Gaúcha um ofício encaminhado pelo Sr. João Simões Lopes, no qual era comunicado àquela instituição que ele iria dar à marca de fumo do estabelecimento industrial, que estava a instalar nesta cidade, a denominação de União Gaúcha.
         Em resposta ao ofício, decidiu a diretoria da União Gaúcha agradecer a gentileza da lembrança do “apreciável” industrialista.
         Cremos que a origem do empreendimento, que Simões Lopes Neto anunciava instalar, fosse a fábrica de fumos estabelecida há tempo e funcionando com regularidade à Rua Dr. Pio, na cidade de Rio Grande.
         Simões Lopes deve tê-la adquirido por volta do mês de novembro de 1900 dos Srs. Araújo Medeiros & Cia. e, logo a seguir, transferido o equipamento para Pelotas.
         Em janeiro de 1901, João Simões & Cia. comunicavam aos seus comitentes e amigos, que mudaram o seu escritório, da Praça da República [atual Coronel Pedro Osório], para junto do seu antigo depósito, à Rua Sete de Abril [atual D. Pedro II] nº 52.
         A fábrica de fumos e cigarros passou a funcionar regularmente em Pelotas, em agosto de 1901, sob a denominação de Diabo.
        
O estabelecimento dividia-se em duas instalações distintas: fábrica, à Rua Independência [atual Rua Uruguai] nº 73, depósito, e também manufatura à, Rua Sete de Abril nº 52.
         Thomaz, o Sagaz, em sua coluna intitulada De Plantão do dia 21 de agosto de 1901 se referindo à nova atividade de Simões Lopes, diz que todos nós sabíamos que o Bemol, o Sr. Serafim, [referência a um dos pseudônimos de Simões Lopes] era um notável em diversos misteres...
         Entendido em comércio, em indústria, em administração pública, versado em hipnotismo, graduado em militância, bacharel no teatro, maluco pela imprensa, o homem ainda teve tempo para dedicar-se a fumos.
         E... fez o diabo... Nem mais, nem menos...
         Agora mesmo, prosseguia Thomaz, ao deixar sobre a tira aquelas mal traçadas  linhas saboreava um adorável caporal da amostra farta que para a redação mandara o Bemol em latas e pacotinhos de vários tamanhos e feitios, irrepreensíveis no acondicionamento caprichoso, preciosos pela qualidade dos produtos que continha.
         Os companheiros aos quais chegou à distribuição do oportuno presente eram unânimes em elogios às diversas marcas que lhes coube, de onde podiam claramente concluir que os fumos que fazia o Bemol eram indistintamente de uma qualidade a toda prova.
         Tanto Thomaz, o colunista, quanto os companheiros não elogiavam mais, porque o fabricante era capaz de desconfiar.
         Que o fumo era bom, era a mais certa das verdades, e ele estava convencido que, apesar da sua origem diabólica, o Padre Eterno não arrumaria com outro o seu secular cachimbo.
         Thomaz encerrava a coluna chamando a atenção dos leitores: “Vejam só que reclame [propaganda] para o Bemol”.

Concurso de balões como forma de propaganda


       
  Integrando-se as comemorações do Jubileu da Imprensa de Pelotas, de cuja comissão João Simões Lopes Neto juntamente com os Srs. Tancredo Fernandes de Melo, Dr. Antônio Paiva, Dr. César Dias e Dr. João Coelho Cavalcanti, fazia parte, a recém-criada empresa João Simões & Cia., proprietários da marca de cigarros Diabo, promoveu esta um concurso de balões-reclames, cujas condições estavam publicadas em outro espaço da edição do jornal Correio Mercantil de 31 de outubro de 1901.
         O evento ocorreria na festa popular que teria lugar dia 10 de novembro, à noite, na Praça da República e, segundo constava ao jornal, outros concursos do mesmo gênero ocorreriam.

Com o Diabo na Praça da República

         Avultada multidão popular, desde as primeiras horas da noite do dia 10 de novembro de 1901,afluiu à Praça da República e arredores.
         Era profusa a iluminação nos corredores, jardins, a bicos Auer e lampiões venezianos, numa quantidade inumerável e variedade de copinhos, lanternas, placas de gelatina, etc., e etc. Nos quarteirões, eram queimados, seguidamente, fogos de bengala de várias cores.
         No chafariz e no lago, havia projeções luminosas.
         Pouco depois das 19 horas realizou-se o anunciado concurso de balões reclame “da importante fábrica de fumos e cigarros marca Diabo”.
         Dos quatro (4) balões inscritos, dois retiraram-se. Os dois que subiram, “aliás, de bonito efeito”, foram ambos desclassificados: o primeiro, com um lado preto e outro branco, tendo neste bem recortados em preto, os letreiros e a marca – figura do diabo – caiu pouco adiante.
         O segundo balão, realmente bem acabado e que deveria apresentar o mais vistoso aspecto, ao subir, perfeitamente equilibrado, por um descuido, deixou ficar em terra, o clou [atrativo principal] do reclame; a mesma figura diabólica da marca da Fábrica, levando presas diversas engenhosas lanternas representando exatamente os diversos tipos de pacotinhos dos fumos e dos cigarros daquela “conhecida e acreditada casa dos Srs. João Simões & Cia.”.
         Foram convidados para juízes o Sr. tenente-coronel Godoy, despachante Firmo Braga e inspetor Martins.
         Queremos aproveitar para dar nossa opinião a respeito da efemeridade da fábrica, pelo menos tendo Simões como proprietário, que em hipótese alguma aceitamos a ideia de ter sido em função do boicote da Igreja Católica aos cigarros, por levarem a marca Diabo.  Dentre outros, nos apoiamos no fato de não haver de forma impressa manifestação alguma neste sentido como, e principalmente, por ter Simões Lopes vendido a fábrica e a marca, que foi mantida pelos novos proprietários.
                 



Fontes: Bibliotheca Pública Pelotense – CDOV – Diário da Manhã, Pelotas, 07-08-2012, p. 15, A fábrica Diabo de João Simões & Cia.
Revisão de texto: Jonas Tenfen
Tratamento de imagem: Bruna Detoni

2 comentários:

  1. Tchê concurso de balões Marca Diabo... Legal o artigo.

    ResponderExcluir
  2. bem bacana o artigo! a proposito, sou colecionador de carteiras antigas de cigarro; caso alguem tenha material disponivel, favor entrar em contato, pois tenho interesse! Murilo, whatsapp 47 99967-5383

    ResponderExcluir