segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Ramão Prieu, um armeiro e cuteleiro na terra do charque

                   
                                                                                     A.F.Monquelat

         Em busca de informações diversas, consultamos, dentre outras fontes o Almanack do anno de 1862 publicado pelo Sr. Joaquim Ferreira Nunes, na Typographia à Rua da Igreja [atual Anchieta] nº 62, e encontramos no item Loja de Armeiros e Espingardeiros o registro da firma comercial dos Srs. Scholberg & Gadet, à Rua das Flores [atual Andrade Neves]. Segundo este Almanaque, pode-se depreender que, pelo menos no ano de 1862, era a firma Scholberg & Gadet a única dedicada a tal ramo de atividades na cidade de Pelotas.  

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         Dissemos em nosso artigo Breve história da casa Scholberg ter sido esta casa fundada em Pelotas no ano de 1850 e, a esta afirmação, acrescentamos agora a hipótese de ter sido o Sr. Vicin Laport fundador da firma, que mais tarde levou o nome de “Casa Scholberg”, o primeiro armeiro e carabineiro na terra do charque.
         Acreditamos que a presença de estrangeiros fabricantes de armas em Pelotas tenha sua origem nas charqueadas, principalmente pela imensa necessidade de facas, objeto indispensável para os carneadores.
         Dentre os cuteleiros e armeiros que se estabeleceram em Pelotas no século XIX, encontramos o nome de Romain Prieu, cidadão francês, frequentemente envolvido nas comissões encarregadas das comemorações do14 de julho em Pelotas. Prieu, quando da criação em julho de 1884 da sociedade de socorros mútuos L’Union Française, foi indicado como Conselheiro da sociedade.
         E é neste mesmo ano, o de 1884, que vamos encontrar o anúncio de 20 de novembro, no qual o Sr. Ramão Prieu, proprietário da Armaria da Estrela estabelecida à Rua Andrade Neves nº 132, comunicava aos Srs. charqueadores que, nesta casa encontrava-se um completo sortimento de facas para carneadores, o que havia de superior, sem igual nesta cidade, já muito conhecidas pelo “distinto” industrialista [charqueador] Sr. Junius Brutus C. de Almeida.
         Não muito depois deste comunicado, “esta muito conhecida” Armaria da Estrela anunciava ter acabado de receber um completo e variado sortimento de cutelaria, como sejam: tesouras para alfaiates, cabeleireiros, modistas, costureiras, para abrir casas, para bordar, para unhas, para caixeiros [balconistas] de lojas de fazendas [tecidos], para podar e para flores, etc.; o que podia haver de superior neste artigo.
         Também havia recebido navalhas, canivetes, trinchantes, facas para jardineiros e seringas para injeção de permanganato de potássio.
         Continuava a fazer as facas marca Estrela, “bem conhecidas em toda esta província, garantidas por sua superior qualidade, até hoje sem igual”.
         Encontrava-se um completo e variado sortimento de armas de todos os sistemas e de superiores qualidades.
         Fazia-se também, todo e qualquer conserto em armas, garantido e executado pelo próprio proprietário.
         Em fevereiro de 1891 a “Armeria da Estrella” fez publicar na imprensa de Pelotas três anúncios, sendo que, no primeiro deles era avisado aos fazendeiros e habitantes da campanha que quisessem folhas [lâminas] de facas marca “Estrella”, legítimas, só as encontrariam em casa do fabricante abaixo assinado: Romain Prieu, à Rua Andrade Neves nº 132.
     

   O segundo reclame anunciava que a “Armeria da Estrella” possuía variadas armas de fogo, todas bem construídas em sua forma e qualidade.
         E, no último deles, lia-se que na “Armeria da Estrella”, conhecida e acreditada casa se encontravam: navalhas, tesouras e canivetes, enfim tudo quanto era concernente à cutelaria, “garantindo-se a sua qualidade”.
         A Folhinha [calendário] do Diário Popular para o 2º semestre de 1891 trazia, dentre outras, a propaganda da “Armeria e Cutelaria da Estrella”, na qual era dito que, à Rua Andrade Neves nº 132, havia um esplêndido sortimento de armas de fogo para caça e para defesa, tesouras, desde a de alfaiate até a de bordar, chairas e facas para charqueadas.
         Magnífico sortimento de tesouras próprias para podar.
         Havia também a afirmação de que o proprietário deste estabelecimento possuía documentos e privilégios, que estava à disposição do público, através dos quais provava as suas habilitações e a superioridade de seus trabalhos.
         Acautelava o anúncio para as falsificações que estavam ocorrendo.
         A modicidade dos preços de todos os artigos era a valiosa recomendação para este estabelecimento.
       

        Encerrando, era dito que nesta casa encontravam-se também facas, garfos e trinchantes para mesas (especiais folhas). Rebolos, canivetes e navalhas para barba, o mais fino que havia nestes artigos.
    As folhas das facas Marca Estrella, marca registrada, verdadeiras, só se encontravam nesta fábrica, que tomassem cuidado com as falsificações.
         Em 1º de julho de 1900 os Srs. Prieu & Dudouet, proprietários da “Armeria e cutelaria da Estrella” à Rua Andrade Neves comunicavam aos interessados que continuava a liquidação em sua casa, e que todos os artigos eram vendidos aos preços mais adequados.
         Bem como, diziam eles, que todos os artigos eram garantidos e de primeira qualidade.
         Encerrando a comunicação, solicitavam que as pessoas que tivessem objetos para conserto na casa, que os fossem retirar.

Prieu & Dudouet, de malas prontas para a Europa


         Aos dez dias do mês de julho de 1900 os Srs. Prieu & Dudouet, proprietários da reputada armaria e cutelaria d’ A Estrella, há longos anos estabelecida nesta cidade, á Rua Andrade Neves, acabavam de liquidar [fechar] aquela casa, vendendo todas as suas existências, assim como a acreditada marca L’Etoile [A Estrela], aos Srs. Scholberg & Joucla. 

         Os Srs. Prieu e Dudouet seguiriam para a Europa e faziam pelas páginas daquele jornal [A Opinião Pública] uma despedida aos seus amigos e fregueses, avisando aos que tinham consertos em sua oficina, que podiam procurá-los, munidos das respectivas cautelas, na firma dos Srs. Scolberg & Joucla, à Rua Andrade Neves, esquina Sete de Setembro.
        
        
Fonte de consulta: Bibliotheca Pública Pelotense - CDOV e acervo de A.F. Monquelat
Revisão do texto e tratamento de imagem: Bruna Detoni


        
          
        


6 comentários:

  1. Onde seria o endereço hoje da fábrica dos senhores Prieu & Dudouet? Seria ao lado da Casa Scholberg? Abraço e parabéns por mais um ótimo texto.

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  2. Meu caro amigo Fábio, grato pela leitura. Quanto a tua pergunta, considerando os endereços e a proximidade da numeração, é possível supor que os Srs. Prieu & Dudouet eram vizinhos da casa Scolberg, mas certeza não tenho. Grande abraço ao amigo.

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  3. Caro Adão Monquelat...sinto-me uma criança redescobrindo os caminhos perdidos da antiga cutelaria. Carecemos deste informes...carecemos das tuas descobertas. Por favor, não pare. Teu trabalho se revela como um autêntico arqueólogo mostrando o passado esquecido. Parabéns mais uma vez! Att. Alfonso Menegassi

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  4. Obrigado por suas palavras, meu caro Alfonso. E, a medida que a cutelaria diga respeito e tenha algo a dizer sobre Pelotas, procurarei resgatá-la e dividi-la com os amigos e leitores. Grande abraço.

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  5. Amigo tenho uma lâmina estrela meu whats para contato 51995357833

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