quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

O fotógrafo Augusto Amorety em Pelotas (parte 2/2)


                                                                                     A.F.Monquelat

         O jornal A Discussão, em julho de 1882, sob o título de Trabalhos Fotográficos dizia aos seus leitores que a arte de Daguerre [Louis Jacques Mandé,(1787-1851)],  progressivamente, tinha apresentado melhoramentos sensíveis. Nos domínios do desenho havia produzido uma revolução, não só pela rapidez, assim como pela exatidão na reprodução de toda a natureza: desde obras de arte, até do próprio ente humano.
         Nesta cidade, que primava pelo desenvolvimento intelectual e material em todos os ramos essenciais da vida social, notava-se com vantagem esse trabalho artístico em um atelier que não poderia o jornal deixar de apontar ao público, como digno de toda a procura, em consequência dos melhoramentos que ali observavam, em harmonia com o que de mais moderno tinha essa arte conquistado na Europa.
         Queria o jornal falar do estabelecimento fotográfico do Sr. Augusto Amorety, à Rua General neto nº46, onde o observador poderia apreciar os retratos mais bem acabados e julgar o mérito de suas obras, que mereceram na Exposição Alemã-Brasileira a medalha de ouro, prova essa excessivamente honrosa para o distinto fotógrafo.
         Não era apenas uma recomendação que o jornal fazia daquela bem montada oficina fotográfica, era de toda justiça que dissesse que ali se executavam os mais belos trabalhos sob a direção do Sr. Amorety.
         Em maio de 1885 o Sr. Amorety enviou à exposição de Belas Artes três caixinhas de “aprimorado gosto”, contendo os retratos da princesa imperial, do Sr. conde d’Eu e seus filhos.
         Estas fotografias seguiram em um vapor que saiu de Pelotas para a Corte, a fim de serem oferecidas a S.S. A.A. Imperiais.
         Em junho de 1885, o Sr. Amorety, com vistas a angariar recursos em benefício do Asilo de Mendigos de Pelotas, ofertou uma “bela fotografia” do interior do salão principal da Bibliotheca Pública Pelotense, onde teve lugar a exposição de Belas Artes em favor do Asilo.
         O Sr. Amorety foi um dos esforçados cooperadores daquele evento, ocasião em que destinou algumas de suas fotografias para o Bazar [espécie de brechó].
     

    O jornal A Discussão, de 30 de setembro de 1885, informava aos seus leitores, que o hábil fotógrafo residente nesta cidade Sr. Augusto Amorety, estava anunciando por aquele órgão uma grande redução nos preços de seus trabalhos.  
       Há tempos domiciliado nesta cidade, o público reconhecia o mérito do Sr. Amorety, cujos trabalhos honravam a sua bem montada oficina.
         Atualmente, dizia o jornalista, expunha o Sr. Amorety em sua vitrina retratos de perfeição inigualável, o que se podia desejar de melhor, aliado as regras de bom gosto. Uma visita, pois, ao atelier do Sr. Amorety, ou ao menos, à vitrina é o que recomendava o jornal.
         Aos 20 de novembro de 1886, à noite, inaugurou-se à Rua Andrade Neves nº 102 o novo atelier do “emérito artista fotógrafo”, o Sr. Augusto Amorety, onde os que o visitassem poderiam apreciar as grandes reformas e os notáveis melhoramentos praticados pelo Sr. Amorety. Havia no estabelecimento um elegante boudoir [salão, toucador] para as senhoras e uma confortável sala de espera, todos forrados de papel e atapetados.
         Todas as dependências eram amplas e ornamentadas “com todo o luxo e bom gosto”.
                   Segundo o Sr. Amorety eram poucas as casas desse gênero no Império e até mesmo em Paris, montadas com tanto apuro e delicadeza.
         As vitrinas continham grande número de retratos, trabalhados a capricho, que demonstravam a capacidade artística do Sr. Amorety.
     


    Em março de 1887 o Sr. Amorety informava ao público que, chegara recentemente da Europa o Sr. Guilherme Johansen, artista da Academia de Belas Artes de São Petersburgo [Rússia] e, tendo entrado em acordo com o proprietário deste estabelecimento (Photographia Amorety), o abaixo assinado avisa aos seus fregueses e ao público em geral que no seu estabelecimento tiram-se retratos a óleo sobre tela, fotografias de qualquer tamanho, retocadas a óleo, pastel, aquarela, crayon e tinta china, igual ao melhor trabalho artístico que possa vir de Paris, como o público poderia verificar pelos trabalhos que se achavam expostos em suas vitrinas à Rua Andrade Neves nº 102, os quais ficariam em exposição até o dia 21 daquele mês.
         Ao final havia um N.B. com o seguinte teor: Reproduz-se qualquer retrato nos sistemas acima mencionados, por pequeno que seja ao tamanho que se desejar.
         A galeria do conceituado profissional Sr. Augusto Amorety, estabelecida no Bazar Musica [que ficava na Rua 15 de Novembro] foi, em quatro de julho de 1901, aumentada com a bela coleção de fotografias com que aquele fotógrafo concorrera à Exposição Estadual.
         Aqueles trabalhos ali permaneceriam por oito dias e eram dignos do apreço público.
         A imprensa de Pelotas anunciava para o dia 15de maio de 1902 um importante leilão, no qual o Sr. J. M. da Cunha, leiloeiro desta praça, remataria móveis, cristais, porcelanas, máquinas fotográficas, piano superior e outros bens, tudo pertencente ao prédio nº 115 da Rua 15 de Novembro, Fotografia Amorety, por ordem do Sr. Dr. juiz distrital.
         O leilão teria início às 11 horas.
                  

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Fonte de consulta: Bibliotheca Pública Pelotense - CDOV e acervo de A.F. Monquelat
Revisão do texto e tratamento de imagem: Bruna Detoni

6 comentários:

  1. Bah sr. Adão esse artigo instiga a procurar essas obras; algumas devem ainda se encontrar na cidade, gostaria muito de vê-las... Baita artigo, matou a pau... abrá

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  2. Sempre ouvi falar do Amorety durante a minha infância em razão da admiração que meu pai (que tem como hobby ler e estudar acerca da viação férrea no Estado) pelos registros realizados pelo nobre fotógrafo. Ao ficar adolescente desenvolvi meu hobby também no tocante a história do Brasil, em especial acerca da vida, hábito, posições e importância da família real no brasil, em especial no tocante a Dom Pedro II e sua famíli, e ao adquirir um livro referente ao baú de fotos que Princesa Isabel guardava, haviam alguns registros realizados por Amorety em seu arquivo, em especial a viagem em que acabaram por chegar em Pelotas e posaram junto ao estúdio fotográfico do mesmo, Conde D'eu utilizando vestes típicas do sul. A atmosfera gerada e capturada pela lente desse importante fotógrafo me fascinam até hoje, e em algumas imagens me "sinto" vivendo aquele período.

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  3. Meu caro Monquelat! Estou fazendo um trabalho sobre antigos fotógrafos de Pelotas e gostaria que alguém me informasse sobre aquele que exercia suas atividades no atual calçadão da rua Andrade Neves, entre Floriano e Sete. Pelo que me consta, o mesmo seria ucraniano ou polonês. Agradeceria a colaboração. Carlos Silveira

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  4. Meu caro Carlos, me parece que aquele fotógrafo terminou seus dias no Asilo de Mendigos, talvez lá tu obtenhas algo. Lembro muito bem dele, era um sujeito muito reservado.

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  5. Caro Adão, com o registro da notícia da permanência do Joahansen em Pelotas, dirimiste a dúvida que eu tinha sobre a autoria de um retrato a óleo que adquiri anos atrás, e está sendo restaurado pelo Laboratório de Restauro da UFPel, o qual não está assinado, mas, por semelhança de traço e outros detalhes, eu atribuía a esse artista, após ter visto dois outros retratos da autoria dele que foram leiloados uns anos atrás em Porto Alegre. O retratado é possivelmente avô ou bisavô paterno da Profa. Maria Laura Maciel Alves. Obrigado por sempre nos enriquecer com tua preciosa pesquisa. Grande abraço. Jonas Klug

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  6. Mestre Jonas, grato por tuas gentis palavras. Abração.

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