sábado, 9 de janeiro de 2016

Um fotógrafo francês na Pelotas do século XIX

                                                                                     A.F. Monquelat


         O Jornal do Commercio informava ter visto, dia 18 de fevereiro de 1879, no atelier do Sr. Baptista Lulhier, situado à Rua General Osório, dois magníficos retratos a óleo, feitos pelo “hábil artista” Sr. [Dominique] Pineau sobre fotografias do Sr. Lulhier.
         O trabalho, segundo o jornalista, nada deixava a desejar pelo lado artístico, notando-se a pureza do colorido e a correção dos contornos.
         Ao público era recomendada uma visita àquele estabelecimento, a fim de apreciar os dois magníficos retratos que ali se encontravam em exposição.
         O hábil e prestigiado fotógrafo Sr. Baptista Lulhier em junho de 1882 passara a adotar o novo sistema instantâneo em seu bem aparelhado estabelecimento.
         Com uma rapidez extraordinária, por aquele novo sistema, eram tiradas as fotos, mesmo as mais difíceis, com tanta fidelidade e rapidez, que os objetos fotografados apareciam exatamente como estavam no momento da foto. 
       

A oficina fotográfica de Baptiste Lhullier


         O atelier fotográfico do Sr. Baptista Lulhier era uma das boas oficinas fotográficas que existiam em Pelotas no século XIX. Estava estabelecida à Rua General Osório nº174.
         À direita de quem entrasse na oficina estava um gabinete de espera, e que servia de galeria para trabalhos fotográficos.
         Ali, segundo depoimentos da época, viam-se bonitas e bem acabadas fotografias.
         À esquerda estava à sala de trabalho particular e o depósito de cartões, máquinas fotográficas, etc.
         Possuía o Sr. Lhullier as seguintes máquinas: uma objetiva de J. H. Dalmeyer, Londres, que podia tirar retratos de 1.50 de diâmetro; outra de Ross, Londres, para extra chapa; uma de Emil Blach Rithesow, para triple paisagem; uma pequena máquina de Ross, Londres, extra rápida; uma objetiva de Derlot, Paris, para retratos comuns; uma boa máquina de Derogy, Paris-Londres, para duplicações até 1.50, a lente tinha trinta e seis centímetros; uma máquina bijou com a qual podia tirar trinta e seis retratos instantâneos; outra máquina, elétrica, Magnesium lamp. De J. Salomon, Londres, para poder tirar fotografias de noite.
         Possuía ainda uma máquina pneumática Cadetts, fabricada por Masrion & C., de rotação instantânea.              
         Esta máquina era tão eficiente que podia fotografar um pássaro voando, uma locomotiva em toda velocidade, etc.
         E, finalmente, outra máquina, igual, mas para atelier.
         O Sr. Lulhier, em fevereiro de 1884, ainda esperava receber novas máquinas e, com as reformas que estava pretendendo realizar em sua oficina, deixaria o seu estabelecimento um primor.
         Ao fundo do corredor de entrada, que possuía quarenta e cinco palmos de comprido por vinte e cinco de largura, estava uma escada que dava para o atelier. Ao pé da escada estava o laboratório químico e a câmara escura.
        
         Continha também bonitos acessórios, mas que também deveriam ser substituídos por outros mais modernos, que estavam por chegar de viagem.
         No atelier havia um compartimento, que servia para toalete, pequeno, mas bem ajeitado.                


         O Sr. Baptiste Lulhier era natural de França, e residia em Pelotas desde o ano de 1870.
         Ativo, trabalhador e tendo sido feliz em seus trabalhos, pretendia tornar seu estabelecimento um dos principais da província.
         Estava exposto, dia 26 de janeiro de 1888, no conhecido atelier de fotografia do Sr. João Baptista Lulhier um quadro contendo o retrato em miniatura, a óleo, de duas filhas do Sr. Daniel Wiering, estabelecido com chapelaria à Rua São Miguel [atual 15 de Novembro].
         As duas “galantes crianças” eram representadas sob a frondosa ramagem de um bosquete “magistralmente” pintada, e sentadas em um tronco de árvore atravessado no solo.
         As figuras, bem como os acessórios, formavam um belo conjunto e de surpreendente efeito, pela boa combinação de cores e tom vivo da luz.
         O quadro, segundo o jornalista, era produto de artista hábil mas modesto e consciencioso.
         A Photographia Lulhier aceitava encomendas para trabalhos idênticos por preço realmente módico.
         O Sr. Baptista Lulhier, cidadão francês, fotógrafo, estabelecido nesta cidade, requereu em 19 de fevereiro de 1888 corpo de delito nos ferimentos que disse lhe terem sido feitos, em sua própria residência, pelo Sr. José Francisco Vieira.
         Foram peritos os Srs. Drs. Romano e Requião, que declararam ter encontrado “uma solução de continuidade com bordos irregulares envolvendo a pele e tecido celular adjacente de cinco centímetros de extensão na região frontal esquerda, e outra apresentando os mesmos sinais com dois centímetros de extensão, formando ângulo reto com a extremidade superior da primeira. Ferimentos leves”.
         O Sr. Lulhier apresentou queixa contra o sr. Vieira. Era seu advogado o Sr. Dr. Piratinino de Almeida.

Tentativa de assalto à casa do Sr. Lulhier e prisão de um pequeno cão


         O jornal A Pátria de nove de junho de 1888, sob o título de “Gatunos?”, noticiava que na noite anterior, dia oito, três indivíduos desconhecidos entraram em casa do Sr. Baptista Lulhier, e sendo por este pressentidos  travaram luta, disparando o Sr. Lulhier três tiros de revólver sobre eles.
         Acudiu ao estampido dos tiros o comandante da polícia particular, com dois praças, porém os indivíduos já haviam escapado, não sendo possível prendê-los.
          Um pequeno cão, que permaneceu preso na casa do Sr. Lulhier após o assalto, poderia ser um sinal por onde talvez chegassem aos três desconhecidos; o cão, por certo, pertencia a algum destes.


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Fonte de consulta: Bibliotheca Pública Pelotense - CDOV e acervo de A.F. Monquelat
Revisão do texto e tratamento de imagem: Bruna Detoni








10 comentários:

  1. Excelente texto amigo Adão!

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Adão a garimpar o cotidiano da cidade e seus personagens, estabeleceindo relações com nossa realidade atual. Gracias por trazer informações desse longínquo colega retratista... Uma abraço Moizes.

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  4. Valeu meu caro Moizes, e vamos em frente pra tratarmos de outro colega teu: o Augusto Amorety. Grande abraço.

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  5. Parabéns pelo texto. Falando em fotografos e retratistas, a tempos gostaria de descobrir qual nome do fotografo que ficava (geralmente) na Andrade Neves a tirar fotos de quem passava. Abraço.

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  6. Grato meu caro amigo Fábio, quanto ao fotógrafo, que parece ter vindo parar em Pelotas fugindo da Alemanha de Hitler, lembro dele e por longos anos o vi na Andrade Neves, em especial, fotografando. Era de pouca ou quase nenhuma conversa, me parece que austríaco, mas o nome não tenho a menor ideia nem tampouco o que foi feito do material dele. Ouvi dizer que terminou seus dias no Asilo de Pelotas, mas não conferi tal informação. Abraço.

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    1. Me disseram que este fotografo seria hungaro. Grande variedades de fotos que as pessoas enviam para a página são desse sr. Obrigado pela atenção.

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  7. Estive em Pelotas, há algum tempo (um mês atrás) e vi o que nunca imaginaria ver: minha cidade completamente destruída pela incompetência dos seus governantes. Pelotas se transformou em uma cidade sem vida, uma egrégora de coisa velha, abandonada, completamente jogada. A Rua Andrade Neves, antigamente cheia de movimento, vida, música, cores e alegria, transformou-se numa estrada qualquer, cheia de buracos, casas velhas, caindo aos pedaços e carros jogados de forma transversal como se fora um grande estacionamento, Rua XV, com o magnífico e tradicional café aquário, completamente mofada, sem vida, sem energia, sem nada...felizmente moro longe, numa cidade progressista, alegre, cheia de vida, a beira mar, e não pretendo mais retornar a pátria pelotense nesta vida, até porque, pelo andar da carruagem, pouco ou nada vai restar da Princesa do Sul, da Casa Beiro Discos, da Confeitaria Nogueira, do Banco da Província, da Loja A Principal, da rádio comunitária tocando música aos finais de tarde na Praça Cel. Pedro Osório, da Farmácia Kautz, Rádio Tupancy e por ai a fora...nada mais disto existe, infelizmente Pelotas parou no tempo.

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  8. Caro Monquelat, sabe dizer com quem ficou o acervo de Baptista Lhullier? Está guardado com algum descendente ou museu?

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