quarta-feira, 9 de março de 2016

O Cine Capitólio (parte 1)

As primeiras notícias

Aos 19 dias do mês de outubro de 1927, era anunciada pela imprensa de Pelotas estar exposta na vitrina da Casa Americana a planta do majestoso “Theatro Capitolio”, que a operosa empresa Xavier & Santos iria mandar edificar no terreno de sua propriedade à Rua General Victorino [atual Anchieta], entre as ruas General Neto e 7 de Setembro, junto ao Cartório Massot.
A referida planta era de autoria do engenheiro Sr. Dr. Sylvio Barbedo.
Dois meses depois, 29 de dezembro de 1927, noticiava-se que estavam sendo atacadas com louvável atividade as obras do Cinema Capitólio que a operosa empresa Xavier & Santos estavam construindo em espaçoso terreno à Rua General Victorino, entre General Neto e 7 de Setembro.
A planta, que até bem pouco estivera exposta, sofrera radicais modificações, tendo sido elaborada outra também pelo engenheiro Dr. Sylvio Barbedo que, desejando contribuir para essa obra de embelezamento da cidade, a oferecera gentilmente.
Pela nova planta, a fachada do Capitólio seria de linhas há um tempo elegantes e majestosas, casando-se a imponência do interior, que pelo luxo e conforto de que se revestiria seria o primeiro cinema do Estado.
As obras haviam sido confiadas aos construtores Dias & Requião, esperando-se que a inauguração do Capitólio pudesse dar-se em abril do ano seguinte.
Por volta de meados do mês de abril de 1928, esperando o respectivo vigamento, encomendado à casa Viúva Gustavo Hugo, de Porto Alegre, achavam-se prontas as paredes exteriores do “confortável” Cine Capitólio que a empresa Xavier & Santos estava construindo.
Segundo a imprensa, era provável que, na segunda quinzena de junho daquele ano, fosse inaugurada a nova casa de espetáculos. No gênero, seria a primeira em Pelotas, tanto em conforto como em “luxo e seleção”.
Assumiria, então, a direção do Capitólio o Sr. Mário Martins, que, há longo tempo trabalhava na empresa Xavier & Santos, e, na época, estava exercendo a função de gerente do 7 de Abril.
Em agosto de 1928, era dito, que estando quase concluída a cobertura do majestoso Cine Capitólio, e tendo sido terminadas as paredes do amplo salão de espera, haviam começado dia 31 de julho a ser feitas, neste as decorações confiadas ao hábil artista Sr. Sobragil Gomes Carollo [pintor, desenhista e cenógrafo, nascido em Alegrete-RS e falecido no Rio de Janeiro em 1974].
Todas as paredes, como o teto, receberiam artísticas pinturas, decorações estilo Renascença, predominando os simbólicos gansos do Capitólio.
As pinturas seriam brunidas a ouro, de um efeito “magnífico e de alto gosto”.
Poucos dias depois, ainda no mês de agosto, era anunciado que a importante casa Antônio Pastro & Filhos, de Porto Alegre, enviara, dia 15 de agosto, à empresa Xavier, o “lindo” mobiliário por esta encomendado para a plateia do novo e luxuoso Cine Capitólio, em construção.
Tratava-se de confortáveis e excelentes poltronas destinadas às plateias daquela casa de diversões, tais quais as que estavam sendo usadas nos mais luxuosos cinemas do Rio de Janeiro, tendo no encosto a palavra “Capitólio” gravada a fogo.
Como era sabido, o novo cinema da empresa Xavier & Santos, além da ampla plateia na parte térrea, seria dotado de uma segunda plateia distinta, com elevação, acima da ordem de camarotes que rodeava o vasto salão, igualmente mobiliado, como a primeira plateia, com as belíssimas poltronas ora recebidas.
Ao fundo dos camarotes, bem defronte à tela das projeções, ficaria situado o “Balcão dos Namorados”, distinto, de muito gosto, e ricamente mobiliado.
Era provável que, na semana vindoura, estivesse terminado o forro de estuque do Capitólio.

A escolha do filme de estreia

À poderosa marca Metro Goldwin Mayer caberia a honrosa tarefa de inaugurar, no dia 9 de novembro de 1928, a luxuosa casa de espetáculos da empresa Xavier & Santos, “O Capitólio”, sendo escolhido para aquele primeiro espetáculo uma película “de valor incontestável e seguro”.
O filme escolhido intitulava-se A semi-noiva, que, segundo a crítica de época, era um romance de peregrina beleza, animado e vivido pela mais rara formosura do cinema americano, Norma Shearer.
A mais bela cerimônia nupcial “até hoje” apresentada no cinema, e um enredo altamente divertido a par de um luxo nababesco de montagens e riquezas de toaletes esplendorosas tornavam, este trabalho, um filme de elite dedicado a um público distinto.
Convinha citar que os filmes do contrato firmado com a Metro Goldwin Mayer estavam sendo exibidos na capital do Estado com grande sucesso, e, desta forma, não deveriam ser confundidos com as antigas produções desta marca, que eram distribuídos pela Paramount.
O preço da poltrona para a inauguração do Capitólio seria de 3$, mas, já no segundo espetáculo, estaria mantido o preço habitual de 2$.

As notícias que antecederam a inauguração do Capitólio

Dia 4 de novembro, era divulgado que, conforme era de domínio público, estava marcada para a próxima sexta-feira a inauguração do luxuoso e elegante Cine Capitólio.
Além dos ótimos filmes já anunciados para os seus primeiros espetáculos, ter-se-ia a exibição de muitas superproduções, que estavam dependendo da referida inauguração; e, entre estas, merecia destaque o filme A cabana do pai Tomás, “um grande feito da cinematografia”.
Faltando apenas três dias mais, e Pelotas iria contar entre os seus melhoramentos, com uma casa de espetáculos, que construída nos moldes mais modernos, com artísticas decorações e especial conforto, quer em mobiliário quer em ventilação natural e artificial, esplêndidas acomodações em duas plateias e uma ordem de camarotes, luxuosa e artística sala de espera, tudo servido por uma feérica iluminação elétrica de l.158 lâmpadas, tornava-a um verdadeiro templo da cinematografia, um dos melhores, se não o melhor salão de projeções no estado do Rio Grande do Sul.
O importante Cine Capitólio, que seria inaugurado na sexta-feira, dia 9, podia-se dizer que iria suplantar qualquer juízo, por mais otimista, que tivessem feito sobre a sua construção.
Estavam, portanto, de parabéns aqueles que todas as noites procuravam o cinema, como sua distração por excelência.


Continua...
Fonte de consulta: Bibliotheca Pública Pelotense - CDOV
Revisão do texto e imagens: Jonas Tenfen

5 comentários:

  1. Nasceu e se foi como a melhor sala de projeção de Pelotas. Assisti a muitas fitas nesse cinema nos anos 90. Legal saber como começou sua história...

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  2. Espetacular como sempre Adão , com suas pesquisas e textos geniais, me senti nos anos 20! O Capitólio marcou as nossa vidas.

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    1. Meu caro Anônimo, obrigado por tuas gentis palavras, realmente o Capitólio fez e fará parte de nossas vidas. Abraço.

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  3. Assisti muitos filmes no saudoso Capitólio, lembro de Rambo 3 na estreia em 5 de Agosto de 1988.

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