sexta-feira, 4 de março de 2016

O pecado (parte 4)*


Furto na casa da Maria Pequena

O Onze de Junho, ao noticiar um furto ocorrido, a ele se refere dizendo que depois de uma alegre soirée, em que os vinhos verdes do Porto, uma verdadeira surrapa [vinho de baixa qualidade], e a caninha correram em profusão na noite de 14 de junho de 1882, relata também que a Maria Pequena foi vítima dos instintos rapaces do Sr. Joaquim Maria de Almeida, que sorrateiramente suspendeu da sua casa um vestido e um par de castiçais de metal.
A pobre Maria Pequena sofrera aquele prejuízo quando os vapores etílicos, fervendo-lhe no cérebro, deixavam-na sonhar com o “domínio do mundo e com o reino da glória”.

Facada no maxixe da Constança

Eram 11 horas da noite do dia 12 de novembro quando um homem, chamado Eduardo, e mais cinco companheiros, dirigiram-se à casa de uma tal Constança à Rua Barroso, onde havia um maxixe, e bateram à porta, que não fora aberta. Eduardo e os companheiros ameaçaram arrombá-la, quando Januário José Rosário, remador do escaler [embarcação miúda] da Mesa de Rendas, que ali se encontrava, resolveu abri-la, recebendo naquele momento uma facada no lado esquerdo, desferida com um canivete de mola, que o prostrou.
O ferido foi conduzido à farmácia do Sr. João da Silva Silveira, onde foram feitos os primeiros curativos.
Dia seguinte ao ocorrido, procederam ao auto de corpo delito.
Tendo o agressor seguido para o Rio Grande a bordo do vapor Rápido, o Sr. Araújo telegrafou requisitando a prisão do autor da “facada”.

Furto no Salão da Bicha

Na noite de 5 de fevereiro de 1883, no Salão da Bicha, foi o Sr. Bento de Souza Machado, vítima de dois industriosos, que sem que sentisse, lhe tiraram de um bolso, a quantia de 540$000, em papel.
O furto atribuiu-se, com todo o fundamento, como dissera o jornalista, a dois industriosos, entrando na operação o auxílio de duas mulheres da vida livre.
As coniventes foram presas e um dos larápios de nome João Melo.
O outro dizia já ser conhecido da polícia que, naquele caso fora mais uma vez condescendente.
O jornalista do Correio Mercantil não aprovava tais indulgências, que sempre estimulavam a repetição do crime e não desagravava a sociedade ofendida.


Prisões das Dulcineias

A polícia com seu tato especial, dizia o mesmo jornalista em 14 de fevereiro de 1883, farejara, na noite anterior, diversas espeluncas da cidade efetuando a prisão de oito gentis Dulcineias, que foram recolhidas à cadeia civil.
À noite foram presas ainda pela polícia cerca de “vinte destas infelizes”.
Parece, segundo o jornalista, que a polícia temia alguma revolta da parte das sacerdotisas de Vênus.
Só assim se explicaria o rigor com que as vinha tratando nos últimos dias.

Tentativa de incêndio no Despacho de Madame

Na noite de 8 de outubro de 1883, tentaram incendiar o pequeno botequim que existia à Rua 24 de Outubro [Tiradentes], denominado Despacho de Madame.
Para esse fim, colocaram por baixo da soleira uma grande quantidade de breu, e puseram-lhe fogo, conseguindo queimar parte da porta.
Os vizinhos pressentiram o incêndio e extinguiram-no imediatamente.
Quanto aos habitantes do Despacho, estes dormiam plácida e tranquilamente e quando despertaram estava passado o perigo.
Bom seria que esta espécie de aviso servisse de freio às cenas escandalosas, distúrbios e desordens que se sucediam quase todas as noites.

Congresso internacional no Despacho de Madame
Apesar da chuva e do vento, alguns ânimos intimoratos arrojaram-se à conquista de aventuras, na noite de 22 de outubro de 1883, sem se importarem com a polícia que em toda a parte metia o nariz.
Era de uma curiosidade tal, esta polícia...
No Olimpo da Rua 24 de Outubro [Tiradentes], no centro ativo da pândega e da beberagem, em suma, dizia o jornalista, na nunca assaz decantada bodega Despacho de Madame houve, dia 22, uma grande folia de socos e cabeças partidas, o “que já era tão vulgar e comum...”.
Estavam as potências em congresso.
Um italiano, um português e um brasileiro.
– Aposto, dizia o primeiro, que Vasco da Gama nunca foi à Índia...
– Mentes como um condenado, aposto...
– Não foi...
E, eis armado o sarrabulho.
Cadeiras para aqui, garrafas para ali, em resumo: uma cabeça rachada, um joelho esfolado – e três hóspedes mais para o xadrez.

Atenção Sr. major Caldeira
Na noite de 15 de dezembro de 1883 foi por diversas pessoas presenciada uma dessas cenas, “que revoltam o sentimento humano”, dizia o jornalista do Diário de Pelotas, a ponto de intervirem nela alguns senhores sem que para tal fossem chamados.
Às 23 horas mais ou menos, apareceu à porta do salão de bailes público denominado Bicha, um italiano e uma senhora de idade, acompanhados de uma menina de, no máximo, 11 anos de idade, e dirigindo-se a diversas pessoas que ali se encontravam, indagaram o tipo de divertimento.
Depois de ter explicação minuciosa para sua pergunta, o “pai da infeliz criança”, ou por ignorância ou p hotéis da cidade, “para que o monstro” se encarregasse de prostituí-la num baile de “mulheres perdidas”.
À vista da coragem e falta de sentimentos de Garcia, houve oposição a “que a infeliz criança” entrasse em semelhante baile, apresentando-se também o Sr. Ramão Salgado, que terminantemente proibiu-lhe a entrada.
Ao Sr. major Caldeira, delegado de polícia, pedia o jornalista providência e fiscalização nesses bailes públicos a fim de que não tivesse que ver crianças prostituídas por monstros, que impunemente passeavam pelas ruas da cidade.

Atenção polícia

As famílias que residiam à Rua 16 de Julho [atual Dr. Cassiano], quadra entre as ruas São Miguel [15 de Novembro] e General Vitorino [atual Anchieta], estavam privadas de chegarem à janela, para não presenciarem cenas de imoralidade que exibiam continuamente diversas mulheres da vida airada [prostitutas] “que ali moravam”.

Desordem na Rua 24 de Outubro

Dia 27 de janeiro de 1884, à tarde, houve uma grande desordem entre dois indivíduos e algumas mulheres “da má reputação”, em uma casa, situada à Rua 24 de Outubro [Tiradentes].
Tanto os indivíduos que se achavam do lado de fora, como as mulheres que estavam dentro da casa, proferiam palavras obscenas, ofendendo por este modo à moral pública.
O jornalista do A Discussão chamava a atenção da polícia, no intuito de evitar que se reproduzissem tais cenas.


Continua...


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* Extraído do livro, ainda inédito, A princesa do vício e do pecado
Revisão do texto: Jonas Tenfen
Tratamento de imagem: Pablo Monquelat

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