quarta-feira, 29 de junho de 2016

A Pensão Rolinha

A. F. Monquelat

Depredaram a “Rolinha”
Na noite do dia 11 de novembro de 1929, um grupo de “Bam-Bam-bans” pôs em polvorosa a pensão “Rolinha”, situada à Praça Júlio de Castilhos [atual Parque D. Antônio Zattera] nº 11, quebrando quase tudo que encontraram à mão, deixando a dona da casa a ver cacos e mais cacos.
Nova desordem na “Rolinha”
Dizia o jornalista do A Opinião Pública que Pelotas, como em geral acontecia em outras cidades, contava também com um número apreciável dos chamados “mocinhos bonitos”.
Em face disso, dia 21 de novembro de 1933, três destes “mocinhos bonitos” resolveram fazer uma farra a seu modo.
Dirigiram-se, em companhia de uma mulher, por volta das 23 horas, a uma pensão existente à Praça Júlio de Castilhos nº 11, de propriedade de Rolinha Pereira.
De chegada, mandaram abrir várias garrafas, começando a beber alegremente em companhia de mais duas mulheres, residentes na Pensão.
Quando já estavam fartos de beber,se  iniciou o número mais atraente do “programa”, qual fosse: o de promover grossa baderna com o intuito de se furtarem ao pagamento da despesa feita.
Como, porém, a proprietária e uma das pensionistas cobrassem o mau procedimento dos mocinhos, estes começaram a espancar as duas mulheres.
Uma delas, por nome Isaura, fugiu em direção aos fundos da casa, tendo Rolinha, a proprietária da Pensão, recebido diversas escoriações e um ferimento contuso no rosto, lado esquerdo, produzido, ao que parecia, por estilhaço de vidro.


Um estranho caso na Pensão Rolinha

Foi levado, dia 31 de maio de 1935, ao conhecimento do Sr. major Demócrito Sattamini, delegado de polícia, um fato rodeado de circunstâncias graves.
Segundo o informante do fato, na manhã daquele dia, na Pensão Rolinha, situada à Praça Júlio de Castilhos, entre as ruas 15 de Novembro e Anchieta, uma mulher despertou surpresa de ali se encontrar e seriamente contundida pelo rosto e corpo, pedindo que a levassem para casa.
A mulher não sabia explicar de que modo se ferira. Ao despertar, perguntara à dona da pensão onde se achava e o que lhe acontecera, tendo lhe sido respondido que havia caído de um automóvel na véspera, dia 30.
De posse da denúncia, o Sr. major Demócrito Satamini, delegado de polícia, resolveu investigar pessoalmente, tendo convidado a acompanhá-lo os repórteres presentes na delegacia.
Aquela autoridade  se dirigiu, em primeiro lugar, à Pensão Rolinha, acompanhado dos jornalistas.
A Pensão Rolinha era, segundo o jornal A Opinião Pública, um antro de prostituição que funcionava há muito nesta cidade, tendo a sua proprietária, por vezes, ajustado contas com a polícia, por tentar arrastar menores ao vício.
Quando o delegado chegou à tal pensão, lá não se encontrava nem Rolinha, nem a vítima.
O Sr. major começou, então, a indagar das mulheres que se encontravam no referido “antro”, o que sucedera no dia anterior.
Tomou a palavra uma mulher bastante moça, de nome Albertina, que disse algumas coisas vagas, receosa, e contradizendo-se frequentemente.
Em vista disso, o Sr. major Satamini mandou recolher Albertina ao 1º posto policial.
Outra moradora da Pensão, de pouco adiantou, dizendo saber apenas que uma mulher, de nome Maria Lima, fora passear, em automóvel, com outra mulher e um homem, e que voltara à Pensão, pela madrugada, já ferida.
Por isso, o major Demócrito intimou Rolinha e Maria Lima, assim como o chofer do automóvel que as conduzira, durante a noite, a comparecerem à delegacia de polícia, às 14 horas daquele mesmo dia.
Exatamente à hora marcada, ali compareceram os intimados.
Maria Lima, que declarou ter 20 anos de idade e residir com sua família à Vila Elsa, na estrada das Três Vendas, apresentava grandes hematomas na região frontal direita, tendo o olho deste lado completamente fechado.
Relatou ela o seguinte: na noite anterior, por volta das 22h39, fora convidada para um passeio em automóvel por Francisco, mais conhecido por Chiquinho, empregado num café situado no Mercado Central e de propriedade do Sr. Costa Nova. Aceitando o convite, embarcaram no automóvel nº 674, de propriedade de Bruno Veiga, ela mesma, Chiquinho e a mulher de nome Albertina.
Dirigiam-se todos a um restaurante, onde comeram e beberam, tendo, após, retomado o automóvel e seguido em direção ao Parque Souza Soares. Daí por diante, declarou Maria de nada mais se lembrar do que consigo se passara. Apenas, quando despertou, viu que se encontrava na Pensão Rolinha, cheia de dores.
Foi também ouvido Bruno Veiga, o chofer do automóvel nº 674.
Bruno declarou que estava dirigindo o carro em direção ao Fragata, tendo sentada ao seu lado a mulher Albertina. No assento traseiro, estavam Chiquinho e Maria Lima. Mais ou menos na altura do cemitério, Chiquinho gritou-lhe que parasse o carro, pois Maria havia caído ao solo. Disse Bruno que ao parar, vira, de fato, caída pouco aquém do automóvel Maria Lima, que apresentava os ferimentos já descritos.
Por volta das 16 horas daquele mesmo dia, o major Demócrito ouviu Francisco Nova, o Chiquinho, que declarou o seguinte: Maria Lima, após a ceia que fizera em sua companhia e na da mulher Albertina, aceitara o convite para passear em automóvel. Embarcaram, então, os três no auto nº674, dirigindo-se este pela Avenida 20 de Setembro, rumo ao Parque Souza Soares.
Disse ainda Francisco  que Maria, ao defrontar o automóvel o Cemitério, manifestou sentir-se tonta e com falta de ar, debruçando-se, então, sobre uma das portas do veículo que ia a baixa velocidade. Em dado momento, sem dar tempo que seu gesto fosse obstado, Maria abrindo a porta do automóvel se jogou ao solo, recebendo, nessa ocasião, o ferimento que apresentava.
Essas as declarações de Francisco Nova, o companheiro de Maria Lima.
A natureza dos ferimentos recebidos por Maria Lima dava, porém, a impressão de que esta tivesse sido vítima de “violento soco”.
Entretanto, como a vítima declarava de nada se lembrar, nem mesmo atribuir a Francisco instintos de perversidade e, em vista de coincidirem as declarações das duas testemunhas com as que prestara Francisco Nova, as autoridades deram por encerradas as investigações, aceitando a hipótese de acidente.
_________________________________________________
Fontes: acervo da Bibliotheca Pública Pelotense - CDOV
Revisão do texto: Jonas Tenfen

sábado, 25 de junho de 2016


Ciclismo: um esporte da elite pelotense ( parte 6 e última)


                                                                                     A.F. Monquelat

 

A prova de resistência organizada pelo Club Cyclista
         Dia 4 de setembro de 1898, realizou-se a corrida sur roule organizada pelo Club Cyclista para prova de resistência dos campeões da velocipedia pelotense.
         Dos dez corredores inscritos, dois, Thaok e Boreas, não compareceram.
         Os oito restantes, às 9 horas em ponto, estavam alinhados no largo do Mercado, em frente ao Lyceu [Escola de Agronomia Eliseu Maciel], e partiram pela Rua 15 de Novembro em direção ao porto da cidade, a fim de percorrer, no trajeto indicado, a distância de 12 km (duas léguas) fixada para esta prova.
         Apesar da hora matinal, muita gente se reuniu no ponto de partida e no de chegada, com o propósito de apreciar a corrida.
         Numerosos ciclistas também estiveram no local de partida e acompanharam, em parte, o percurso dos corredores.
         Às 9h27, chegava ao término da corrida o primeiro campeão, Aventureiro (Sr. Hermmann von Huelsen Filho), montando a sua bicyclette Hartford, norte americana, da fábrica Colúmbia, de que eram representantes, em Pelotas, os Srs. José Carneiro & C., instalados à Rua Marechal Floriano nº 51.
         Ao vencedor, coube o primeiro prêmio: uma medalha de ouro.
         Cinco minutos depois, chegava o segundo colocado, que foi Veloz (Sr. Justino Franco), em máquina Gritzner; e, logo em seguida, Rocambole (Sr. Lourival Pinheiro), pedalando a sua Naumann (agentes nesta cidade os Srs. Gottwald & C.).
         Couberam, portanto, a Veloz e Rocambole os prêmios de 2º e 3º lugar na corrida, sendo àquele medalha de prata e a este menção honrosa.
         Tupy, montando bicyclette Brennabor (alemã, agente em Pelotas o Sr. Daniel Wiering), fez uma excelente corrida, mas fora prejudicado, já próximo à chegada, na Praça da República [Praça Coronel Pedro Osório], pela ruptura de um pneumático, acidente que o pôs fora de combate.
         Os outros competidores foram: Vampa, em máquina Sypsia; Aramis, Brennabor; Trapy, Concordia; e Favorito, em sua Clement (depósito no Bazar Musical).
         Foram juízes da corrida os Srs. Dr. José Brusque, Pompílio Oliveira e Vasco Fagundes.
         No dia 7 de setembro, o Club Cyclista faria um passeio oficial ao Parque Pelotense, onde haveria festejos promovidos pela direção do estabelecimento, e, nessa ocasião, seriam entregues os prêmios aos vencedores da corrida.
 
 
Outras notícias
         Constava que o Club Cyclista promoveria, dentro de pouco tempo, uma diversão no Parque Pelotense ou no Prado com o propósito de reverter a renda em benefício da Santa Casa.
        A datada entrega dos prêmios foi transferida do dia 7 para o dia 20 de setembro (feriado estadual, aniversário da revolução de 35), conforme informação dada pelo secretário do Club, Sr. Myrtil Franck.
 
 
A entrega dos prêmios
         A imprensa local anunciava que o Club Cyclista faria, dia 20 de setembro, no Parque Pelotense, a entrega dos prêmios aos vencedores da sua corrida sur roule, ocorrida no dia 4 daquele mês de setembro.
         O Club Cyclista partiria às 13 horas, em passeio oficial, da frente do Lyceu, em direção ao Parque.
 
 
No Parque Pelotense
         O Club Cyclista fez a entrega, aos Srs. Hermann von Huelsen Filho, Franco Souza Júnior e Lourival Pinheiro, das medalhas de ouro, prata e menção honrosa, respectivamente.
         Em lugar previamente determinado, realizou-se a entrega, fazendo uso da palavra o presidente do clube, Sr. tenente João Simões Lopes Neto.
         Após o ato da entrega dos prêmios, foi servida uma mesa de doces e líquidos, sendo trocadas diversas saudações e também pronunciado um discurso o Sr. Mário Artagão.
         Da cidade, partiu para o Parque Pelotense uma coluna de 78 ciclistas, indo “vistosamente enfeitadas” as máquinas de algumas jovens.
         Do Rio Grande, veio assistir à festa uma comissão de ciclistas, a qual foi recebida por uma delegação do Club de Cyclistas.
 
 
Nova remessa de bicicletas
         Pelo jornal Correio Mercantil do dia 4 de outubro de 1898, era comunicado que a casa Ed Le Coultre & C. acabara de receber um variado sortimento de bicyclettes, de várias marcas, tanto para passeio, como corrida e meio corrida, para homens, senhoras e crianças.
         Os irmãos Le Coultre, diretores da referida casa (Relojoaria Suissa), andaram, na véspera, dia 3, circulando pelas ruas da cidade montando uma tandem Ancora, fábrica alemã, muito famosa.
 
 
Uma pista de ciclismo na Praça?
         Era noticiado pela imprensa de Pelotas que o Club Cyclista iria requerer à intendência municipal a concessão, por determinado tempo, da Praça Henrique D’Ávila [Praça dos Enforcados], entre a Rua Paysandu [atual Barão de Santa Tecla] e o Arroio Santa Bárbara [região hoje do Camelódromo], para ali construir uma pista para o exercício dos seus associados, comprometendo-se a dotar o local com benfeitorias.
         Foi também divulgado que, pela intendência municipal de Rio Grande, foi concedida, pelo prazo de 15 anos, a Praça sete de Setembro ao Club Cyclista daquela cidade, que ali instalaria a pista para as suas corridas.
         O cessionário se comprometia a embelezar, ajardinar e conservar aquela praça, sob a imediata fiscalização do município.
         A Praça Sete de Setembro, de Rio Grande, continuaria a servir ao trânsito e uso público, exceção da parte ocupada pela pista.

        


_________________________________________________    

Fontes: acervo da Bibliotheca Pública Pelotense - CDOV

Revisão do texto: Jonas Tenfen

Tratamento de imagens: Bruna Detoni

segunda-feira, 20 de junho de 2016

A pensão Antoninha




A desordem da Thereza

         Dia 16 de março de 1931, às 5h30, Thereza Lemos, da Pensão Antoninha, à Rua Cassiano, em estado de embriaguês, promoveu grosso sarilho.
         Ao ser presa e conduzida ao 1º posto, pelo soldado Francelino Ignacio de Souza, foi preciso o emprego de força, sendo, assim, esbofeteada pelo soldado.
         Chegada ao 1º posto, com diversas equimoses e com o rosto banhado em sangue, foi chamada a Assistência [Ambulância] que conduziu a bêbada para a Santa Casa, porém, antes de lá chegar, Thereza jogou-se do veículo, recebendo escoriações.
         Depois de medicada, Thereza ficou internada na Enfermaria Brusque.
         O soldado Francelino foi autuado e recolhido ao xadrez do 4º Batalhão da Brigada Militar.




Sargento alveja Antoninha

         Sábado, 31 de dezembro de 1932, um sargento do Exército, de nome Favorino de tal, impedido de entrar na Pensão de Antoninha Silva, alvejou-a com um tiro.
         Antoninha telefonou para o quartel comunicando o ocorrido.
         Ao local, compareceu uma patrulha daquela corporação, comandada pelo sargento Nercy Gonçalves que, inteirado do sucedido pela própria Antoninha, “teria tomado naturalmente, as providências necessárias...”.
         Parece, porém, que Antoninha não se deu por satisfeita ainda e foi se queixar à Delegacia de Polícia também.


Prostituta, embriagada, despenha-se da sacada

         Carmen Louzada, de 22 anos de idade, casada, residente na Pensão Antoninha, à Rua Voluntários nº 459, sobrado, gostava imensamente da pinga e, quando bebia, ficava nervosa.
         Domingo, 7 de janeiro de 1934, já bastante tonta, Carmen resolveu tomar ares na sacada do sobrado.
         Pouco depois, sem que soubessem como, Carmen se despenhou da sacada abaixo, vindo cair na calçada.
         Socorrida pelo agente Satyro Castro, da Guarda Noturna, foi Carmen transportada para a Santa Casa, onde recebeu os necessários curativos.
         Apresentava ela contusões e escoriações generalizadas pelo corpo.

Fantasma põe puteiro em polvorosa

         O caso, divulgado pela imprensa em 31 de março de 1934, ficou conhecido como o “Fantasma da Rua Voluntários”.
Era um caso verdadeiramente singular. Já há alguns dias, moradoras de uma pensão viviam apavoradas com um fantasma que aparecia e desaparecia misteriosamente.
À Rua Voluntários, quadra entre as Ruas Felix da Cunha e Gonçalves Chaves, no prédio de nº 162, existia uma pensão de mulheres conhecida por Pensão da Antoninha.
Dia 29 de março, à noite, mais ou menos por volta das 21h30, o guarda do policiamento, de serviço naquela zona, avisou para o 1º Posto Policial que havia algo de anormal na Pensão Antoninha, pedindo reforço para efetuar uma diligência.
Imediatamente, para ali, seguiu a “viúva alegre” [denominação popular dada ao carro da polícia durante certa época], conduzindo diversos soldados do policiamento, tendo, também, comparecido o Sr. tenente Carlos Souza, subdelegado de polícia, que estava ocupando, interinamente, o cargo de delegado.
Tratava-se do seguinte: uma das mulheres residentes na referida pensão, enxergara um homem sobre o telhado de um pequeno compartimento da casa, onde se achavam as instalações higiênicas.
Chegada a força policial, foi dada rigorosa busca em toda a casa, no quintal da mesma e nos quintais vizinhos, assim como em uma casa desocupada, à Rua Felix da Cunha nº 758, cujos fundos davam para a pensão.
Essa busca resultou infrutífera, pois o “homem da capa preta” não foi encontrado.
Como era natural, dado o fato de ser ainda cedo, grande foi a aglomeração de pessoas no local.
Entre os presentes, encontrava-se um dos repórteres do jornal A Opinião Pública que ouviu curiosos comentários que despertaram sua atenção para o caso, à primeira vista banal.
Os comentários giravam em torno da pergunta:
- Ladrão ou fantasma?
Dia 30 de março, pela manhã, a reportagem do jornal visitou o local, no intuito de saber o que, de fato, estava ocorrendo.
Procurando ouvir as vizinhas, uma delas, que pareceu mais sensata por ser bastante idosa, explicou o seguinte – sendo confirmado por outras: há oito dias vinha se verificando, na Pensão Antoninha, fatos que estavam trazendo em constante sobressalto, não só as pensionistas da casa, como a todos os vizinhos.
Para ela, não se tratava de coisa deste mundo. Imaginasse o repórter, que na noite de sexta-feira, a mulher de nome Lourdes, que morava na pensão, precisando ir aos fundos da casa, viu, perfeitamente bem, um homem sentado sobre o telhado da patente [banheiro]. Dado alarma, acudiram alguns vizinhos que, como nada vissem, atribuíram o caso a um simples susto de Lourdes.
Na noite seguinte, quando já ninguém mais se recordava do que ocorrera na véspera, Lourdes indo novamente aos fundos da casa, esbarrou com um vulto, que reconheceu ser o mesmo que na noite anterior deparara sentado sobre o telhado da patente.
Repetiu-se, então, a mesma cena da véspera, isto é, foi dada busca no quintal, nada sendo encontrado.
O fato, porém começou a preocupar vivamente não só as moradoras da Pensão Antoninha, como aos vizinhos.
Todas as noites, desde aquela fatídica sexta-feira, o tal “homem-fantasma” era visto, ora sobre o muro dos fundos da casa, ora no interior do pátio e até dentro de casa.
Em uma daquelas últimas noites, uma das moradoras da pensão, viu encostado a uma vitrola, o mesmo misterioso indivíduo.
Perguntando-lhe o que desejava, o homem, sem se perturbar, depois de olhá-la fixamente, com os olhos parados, sem dizer palavra, retirou-se pela porta dos fundos, quando o poderia ter feito pela da frente, pois achava-se esta aberta.
Segundo a mesma informante, várias mulheres residentes na pensão tinham visto, por vezes, a misteriosa aparição.
Diziam elas que o “fantasma era de estatura alta, moreno, moço ainda, usava suíças, e apresentava-se bem vestido, calças brancas e casaco preto ou azul-marinho”.
Disse ainda a informante  que o guarda do policiamento vira também o homem-fantasma.
À noite, quando ainda era bastante intenso o movimento nas ruas, em virtude das comemorações da Semana Santa, a reportagem, que não perdera mais de vista o prédio à Rua Voluntários nº 162 foi atraída por um novo e grande agrupamento de pessoas à porta do referido prédio.
Outra vez o homem? – indagou o repórter.
- Sim. – Disse-lhe uma mulher, residente na pensão. E, acrescentando, informou que “hoje ele anda todo de branco”, e que ela o vira em cima do muro.
Em seguida, chegou “a viúva alegre”, conduzindo vários soldados do policiamento.
Com auxílio de lanternas elétricas, foi dada rigorosa busca, não só na pensão Antoninha, como nos quintais vizinhos e casa que se achavam desocupadas naquele quarteirão.
Nada, porém, foi encontrado.
As diligências daquela noite foram dirigidas pessoalmente pelo Sr. subprefeito, que tomou as providências que o caso exigia.
E assim foi que durante vários dias o “Fantasma da Rua Voluntários”, com suas aparições e desaparições, ocupou a página principal de um dos mais importantes jornais da cidade, tendo sido convocada, inclusive, uma junta espírita para tentar desvendar o caso, sem que esta tivesse obtido algum resultado favorável.
Até que... Tendo sido chamados todas as mulheres residentes na Pensão Antoninha e sua proprietária, estas, após demorado interrogatório, acabaram por confessar que haviam organizado um truque por questões de amantes, com o fim de amedrontar uma das mulheres da pensão.
Segundo ainda declararam as referidas mulheres às autoridades, não as supunham que o fato tomasse o vulto que tomara, motivo esse que as amedrontou, obrigando-as a não revelar a verdade logo que foi dado o alarme publicamente.
Estava, pois, desvendado o mistério que tanto preocupara e chamara a atenção pública.  

João espanca a Rita

         Na madrugada do dia 31 de janeiro de 1936, João Machado, em estado de embriaguês, penetrou na Pensão Antoninha para espancar a mulher Rita Gonçalves da Costa, com quem mantivera relações.
         Aos gritos de Rita, acudiram outras moradoras da referida pensão, que trataram de avisar a polícia sobre o que estava ocorrendo.
         A polícia compareceu e fez com que Machado abandonasse o local, intimando-o a comparecer, naquele mesmo dia, à Delegacia de Polícia.
         O homem, porém, estava firmemente disposto a mimosear Rita e tanto assim, que logo que a polícia se afastou da Pensão Antoninha, Machado ali voltou e começou a espancar “heroicamente” a indefesa mulher.
         Desta vez, no entanto, o valente foi trancafiado em uma das celas do 1º posto policial.


_________________________________________________    
Fontes: acervo da Bibliotheca Pública Pelotense - CDOV
Revisão do texto: Jonas Tenfen
Tratamento de imagens: Bruna Detoni


terça-feira, 14 de junho de 2016

Ciclismo: um esporte da elite pelotense

parte 5



Outras notícias sobre o ciclismo em Pelotas

         Na Livraria Americana, o redator do Correio Mercantil, dia 21 de abril de 1898, dizia ter visto um triciclo, a pedal, de fabricação alemã.
         Era de um só assento e as rodas eram revestidas de caoutchouc [borracha], mas não pneumáticas.
         Os Srs. Gottwald & C. eram os agentes, nesta cidade, das bicyclettes Naumann, e o Sr. Daniel Wiering, das Brennabor, ambas fábricas alemãs.
         O Bazar Musical anunciava ter máquinas [bicicletas] de várias fábricas francesas e americanas.
         Era informado ainda, pelo Correio Mercantil, que um conceituado comerciante desta cidade, trouxera da Europa “uma sólida” bicyclette inglesa, The New Rapid, na qual passeava e trabalhava diariamente.



A Praça da Matriz seria o local ideal

         O número de ciclistas existente em Pelotas já era considerável e ia aumentando a cada dia, era o que informava o Correio Mercantil.
         Em trabalho ou a passeio, era constante o trânsito de velocipedistas na Rua 15 de Novembro, que, das nossas ruas centrais, o melhor calçamento possuía não correndo assim tanto risco a integridade dos pneumáticos.
         Para evoluções e ensaios, era esse mesmo o local preferido, até pelos que iniciavam os exercícios de aprendizagem.
         Não sabia o jornalista, porém, como é que os ciclistas pelotenses não se lembravam de aproveitar, para tal fim, o vasto quadrilátero da Praça da Matriz [Praça José Bonifácio], lugar de pouco trânsito e cujo calçamento, ainda novo e feito a pedras miúdas, oferecia-se vantajosamente para um centro de operações do ciclismo, enquanto não se construía o projetado velódromo.

A festa do Club Cyclista

         O número de pessoas que compareceu à corrida inaugural do Club Cyclista, segundo a imprensa, foi extraordinário.
         As duas arquibancadas ficaram completamente lotadas, vendo-se nelas inúmeras senhoras; compacta multidão espalhava-se “pela pelouse”[gramado] e por todas as demais dependências do Prado, havendo ainda muitos carros cheios de espectadores no lugar apropriado.
         Nenhum incidente perturbou o bom andamento da diversão, que correu de princípio ao fim no meio das mais entusiásticas demonstrações de apreço do público.
         O resultado dos páreos foi o seguinte: 1º - Club Caixeiral, 600 metros. Prêmios: um tinteiro de bronze, oferta da Livraria Comercial, ao vencedor; um par de bonés de seda, oferta das casas Wiering e Spanier, ao segundo; menção honrosa ao terceiro e quarto. Vencedor: Tapy (bicyclette John’s Cycles); 2º - Rocambole (Clement). Correram também Eolo (Corona) e Pirá (Popular Star).
         Por entendermos desnecessária e de pouco interesse, deixamos aqui de divulgar o resultados dos outros páreos.
         Terminada a última corrida, na sala da diretoria do Prado, foram, pelo Club Cyclista, servidos aos seus convidados, corredores e demais, doces e líquidos, ocasião em que foram erguidos muitos brindes.
         Segui-se a distribuição dos prêmios aos vencedores, voltando depois todos os ciclistas, incorporados como tinha ido, para a cidade.
         Durante as corridas, tocaram as bandas de música do Club Caixeiral e a do 29º batalhão.
         O jogo da pule atingiu o valor de 2:325$000 (dois contos trezentos e vinte e cinco mil réis).

13 de maio, a festa que não aconteceu

         Anunciou o jornal A Opinião Pública, em sua edição de 9 de maio de 1898, que na sexta-feira, dia 13, festa nacional, haveria outra brilhante festa velocipédica, no Prado Pelotense.
         Fazia parte do programa, que depois o jornal divulgaria, um páreo entre o amador Sr. Ed Le Coultre e um afamado parelheiro [cavalo corredor].
         Para o dia 10 de maio, às 19 horas, estava convocada uma reunião do Club Cyclista.
         Tendo em vista a não publicação do programa anunciado pelo jornal ou qualquer outra notícia em órgão algum da imprensa sobre a “festa nacional”, podemos considerá-la como não ocorrida.

A eleição no Club Cyclista e seu resultado

         Aos 28 de julho de 1898, o Club Cyclista convocava para uma Assembleia Geral Ordinária, por ordem do Sr. presidente, os Srs. ciclistas em geral que se realizaria domingo, dia 31 de julho, às 11h30, no salão da Bibliotheca Pública Pelotense, a fim de elegerem a diretoria que administraria o Club, no período de 1898-1899, e tomarem conhecimento de outras exigências dos estatutos.
         Era pedido o comparecimento de todos, pois eram urgentes as deliberações a tomar.
         A convocação estava firmada pelo secretário do clube, Sr. F. G. Boyunga.

A diretoria eleita para o período 1898-1899

         Aos dois dias do mês de agosto de 1898, era divulgado o resultado da eleição ocorrida no dia 31 de julho.
         Presidente: Sr. João Simões Lopes Neto (reeleito); Secretário: Sr. Myrtil Frank; Tesoureiro: Dr. Joaquim Rasgado; Comissários: Sebastião Planela, Lúcio Lopes Sobrinho (reeleito), Juca Areas, Vasco Fagundes, Bento Dias e Adolfo C. Maia.


                                    
                                                          Segue...



_________________________________________________    
Fontes: acervo da Bibliotheca Pública Pelotense - CDOV
Revisão do texto: Jonas Tenfen
Tratamento de imagens: Bruna Detoni